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quarta-feira, 27 de maio de 2015

    “Ouvido se não tem, aprende se a ter”. Uma frase estranha que me reportou à musica. Não se nasce com o dom de ouvir e gostar de boa musica, aprende-se ouvindo, prestando atenção, tendo acesso e com vontade pessoal, estudando e conhecendo. Apenas para ouvir só se faz necessário a musica e a disponibilidade em ouvi-la. Para compreender e desfrutar do que se escuta pode ser preciso um pouco mais.
     Como ouvir uma sinfonia em todo seu esplendor e “entende-la”, como perceber as nuances do som, as melodias do conjunto? A resposta embora pareça simples não o é. Uma sinfonia é uma obra grandiosa na qual o autor conta uma historia através das melodias, em alguns movimentos ele apresenta a introdução, depois desenvolve o tema e depois conclui, finalizando sua idéia.
    


Neste meu aniversario , eu me dei um presente . Fui ao Teatro Municipal de Sao Paulo para ver, assistir e me deleitar em um concerto.  O passeio começa ao adentrar o hall de entrada, magnifico, impactante em seu esplendor. É uma viagem no tempo. LINDO.
Eu comprei um ingresso na segunda fila , a poucos passos do maestro e do violinista que fui ouvir e ver.Fui ouvir o concerto para violino e orquestra  N 5 K 219de Wolfgang Amadeus Mozart , com o solo de violino de Nikita Boriso-Glebsky. Um violinista estupendo, russo.
Ele nao toca com tecnica exemplar , ele toca com a alma , a perfeição é absoluta, seu rosto se contrai. Ele vive a musica que toca e toca com o coração.
Ha tempos eu nao me emocionava tanto. Eu chorei de emoção. Ai me lembrei de meu pai , que tanto amava a musica e tanto amava Mozart.Em 2004 escrevi o texto abaixo e realmente é mergulhando na musica que se sente, é revendo que se entende.


"Para ouvir um concerto o conhecimento teórico ajuda, mas não é imprescindível; embora que quanto mais conhecemos da teoria musical, da construção harmônica de uma peça, da utilização dos tons maiores para expressar força, alegria, e emoções fortes ou menores para expressar tristeza, melancolia, luto, um pouco mais podemos entender o caminho que o autor pode ter tentado tomar, o que tentou transmitir.  O conhecimento permite o entendimento, mas é difícil que ocorra este entendimento durante a execução da peça musical, só após o termino é que conseguiremos uma “visão de conjunto” da obra. O conhecimento teórico permitiu ai o entendimento da construção da sinfonia e a seqüência melódica e a harmonia utilizada, mas se permanecemos atrelados às teorias durante a execução o que não conseguimos foi ouvir a musica.

    Um concerto se inicia, e se nos permitimos nos desatrelar da teoria e nos deixarmos “ser invadidos” pelo som conseguiremos perceber a linha melódica principal, ouvindo-a como a maioria o faz horizontalmente apenas acompanhando a melodia, mas podemos escutar também estruturalmente, percebendo os temas que se imbricam em um sentido vertical com varias linhas melódicas que se reúnem e juntas constroem a harmonia da peça. È como se fossem duas pessoas conversando, uma fala (a primeira linha melódica) e a outra responde (a segunda linha melódica) e seguem repetindo, se imiscuindo, invertendo, se unindo, se completando.  Em separado seriam 3 a 4 “sentenças musicais” diferentes, mas elas ao se juntarem quase imperceptivelmente constroem a sinfonia. É preciso deixar que as linhas melódicas surjam uma a uma para ai conseguir considera-las em seu conjunto harmônico. Não é possível esta percepção atrelada à leitura teórica da peça, é necessário um certo distanciamento do pensamento teórico para que a musica pura seja percebida e considerada. É como se o autor tivesse encerrado segredos em sua musica que só podem ser percebidos por aqueles que aprendem a ver abaixo da superfície."

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