Total de visualizações de página

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O primo gago

O PRIMO GAGO

Minha mãe, brasileira, de Itaporanga, interior de São Paulo, conheceu meu pai, um alemão, em um jogo de futebol na igreja. Após 42 dias estava m casados.
Amor a primeira vista. O amor falou mais alto.
No começo de seu casamento recebe em uma tarde a visita de um primo de minha mãe. Este primo era gago, muito gago e conversar com ele era sempre muito exaustivo.
Mamãe adentra a casa para passar um café e fritar uns bolinhos e deixa meu pai e o primo gago no alpendre. Após um tempo, escuta lá da cozinha a conversa alta entremeada de gargalhadas. Vai rápido , para verificar se chegou mais gente, e se surpreende, os dois conversam animadamente, cada um na sua língua, o alemão e o gago se entendem , a despeito das diferenças...
Eu sempre ri muito desta historia lembrada nos papos de fim de tarde com papai e mamãe e Beth. Era sempre divertido relembrar.
Eu sempre achei a historia incrível, e sempre me imaginei conversar sem entender, e agora vivi uma situação estranha que me relembrou esta historia.
Eu estava na Alemanha , decidi ir a pé à Klusserath, cidade perto de onde papai nasceu . Eu subi um morro e o desci, cansada andei pela cidade e comprei um lanche e sentei me num ponto de ônibus, sabendo que demoraria quase uma hora para o onibus chegar. Alguns minutos depois um senhor vem na minha direção , em um andador ( é comum na Alemanha idosos com andador sem problemas físicos, só para segurança).
Ele cumprimenta: morgen ( soa-se moaguem) , eu respondo: morgen ( lembrem-se que falo muito pouco de alemão, eu diria que sobrevivo com meu alemão , e so entendo se falam devagar e usando dicionário). Ele inicia uma logorreia, fala sem parar ( em um alemão que não entendo: dialeto?) , gesticula, me mostra coisas e fala e conta animadamente mostrando também pessoas que passam. Minhas intervenções se restringem a ja, ja ( sim ,sim) e “conversamos”assim durante toda a hora que esperei o ônibus.
Quando o ônibus se aproxima ele o aponta, fala, digo ja , nos levantamos e ele me da uma abraço apertado e se despede.
Gracas a Deus sei falar auf Wiedersehen.
Acho que herdei o gen do meu pai que permite longas e alegres conversas malucas, destituídas de sentido.
Eu ainda vou tentar conversar na Russia um dia...


Primeira foto: Papai o sexto da esquerda para direita atras, e primos . NA segunda foto papai , tia e mamae em dia de casamento

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Pantanal

Pantanal
Eu amo passeios em que posso conhecer lugares da natureza, e se estiver intocado me extasio. O Pantanal ainda tem estas maravilhas e de tempos em tempos retorno a Pocone e ando pela Transpantaneira, 100 km de puro prazer visual.
No inicio da manhã, ainda meio escuro entro pela estrada. Que maravilha, as arvores pontilhadas de branco ... são garças brancas pousadas em seus galhos. As veze uma arvore rosa de colhereiros.Ai com o sol vemos os jacarés preguiçosos nas margens das lagoas. A estrada é elevada, não há risco de contato com eles, mas é fácil vê-los. Ao longe pacas se entremeiam as aves. Ë tão lindo que não da para descrever...





segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Felicidade


"As pessoas mais felizes não
têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das
oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para
aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam
e tentam sempre.

Clarice Lispector

sábado, 27 de agosto de 2011

Outono em Rondonopolis


Outono em Rondonópolis


            Caminho o mesmo trajeto no horto, às vezes de um lado, às vezes do outro, repetidas vezes todas as semanas há cinco anos. A paisagem é sempre a mesma, mas as variações vão se mostrando a cada dia.
            É sempre o mesmo caminho, mas aprendi a olhar a cada dia as pequenas diferenças que aparecem. Lá existe uma arvore que cresceu dentro de um toco de outra arvore e nestes cinco anos eu a vi crescer e florescer. Passaram-se as estações e percebi que a cada uma delas a paisagem se modificava.
            No inverno é sempre seco, sem chuvas e as arvores se cobrem de uma poeira parda, que unifica a sua imagem com o chão de areia e pedriscos. O verde só aparece em locais irrigados. Isto é o que se mostra ao nosso olhar que passa, mas um olhar mais atento mostra as flores do cerrado, orquídeas pardas como a poeira, bromelias de cor escura em que apenas em seu interior aparece o amarelo e o vermelho, e as flores de cores discretas, pálidas, mas belíssimas. No final do inverno, na grande seca do cerrado florescem os ipês, primeiro a paisagem se mescla de rosa e de branco e depois de amarelo. O ipê amarelo é o símbolo de nossa cidade e também tem 2 enormes na praça central.
            Com a primavera chegam as primeiras chuvas e ai muda tudo, reaparece o verde das folhas e muda o cheiro. O cheiro de terra molhada se mistura ao cheiro das plantas e o ar sem poeira se torna agradável para se respirar. As flores começam a aparecer, primeiro um lírio do campo que brota da terra, as flores brancas. Elas se mesclam com bromelias e musgos e o perfume chega a embriagar. O caminho se torna cheio de vida, ou melhor, a vida aparece, e se mostra ao meu olhar.
            No verão o calor se acentua, as chuvas se tornam esparsas, mas mantém o verde das plantas e o cheiro de terra. As flores se acentuam, vermelhas, terrosas, brancas, amarelas, intensas e belas. É o período em que as plantas se tornam mais exuberante. O calor intensifica o crescimento, brota da terra diferente pequenas plantas, o calor e a umidade cobrem de musgo as arvores, surgem as borboletas, multicoloridas. O ruído dos pássaros se acentua, os macacos brincam nas arvores, e um pica pau faz um barulho ritmado bem próximo sem se importar com a minha passagem
             Agora é outono e o caminho se mescla de poucas flores, um verde que aparece no meio da poeira, as arvores perdendo parte das folhas e uma cor parda se mescla ao verde da paisagem.
            Eu fui brindada em um domingo de outono pela mãe natureza. Era um domingo frio de outono, com um vento leve, e a caminhada transcorria de maneira agradável. O vento farfalhava por sobre as arvores. Eu sentia a brisa suave do vento no rosto , e de repente o barulho se intensifica e começa uma chuva de folhas que se desgarram das arvores, atapetando o chão da trilha. O efeito dura apenas uns dez minutos, um efeito de uma beleza incrível. Eu tive a sensação, magica, de estar em um outro tempo, algo que eu nunca tinha visto.  Eu me extasiei com a beleza do efeito das folhas caindo em cascata, lentamente com um ruído suave de chuva. Uma chuva de folhas de outono. Outono em Rondonópolis.
                             No toco cortado de uma arvore nasce uma nova vida. Renovacao
                                             Outono em Bonn.....que imagem magnifica
                                                                               VIDA

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O mosteiro de São Bento

O MOSTEIRO SÃO BENTO

Eu amo São Paulo. Sempre que vou a São Paulo, eu conheço um novo lugar, um novo café, um restaurante, uma loja, uma novidade. Mas eu também sempre retorno os meus caminhos. E um dos bons caminhos é a missa no Mosteiro de São Bento.  Para conseguir assistir a missa das 07:00 horas, eu preciso acordar cedo, pegar o metrô (não muito cheio nesta hora). Eu desço na praça, sempre é muito bom este lugar neste horário. Não tem tumulto e são poucas pessoas passando e tem segurança na saída do metro na praça. É seguro, silencioso e lindo.  É muito gostoso andar na praça no inicio da manhã, esta região é parte do centro financeiro de São Paulo e o agito só começa mais tarde, então fica muito quieto neste horario.
Eu atravesso a praça calmamente e adentro ao Mosteiro. Ë como respirar fundo e dar um salto no tempo, entra-se em outro mundo. O Mosteiro de São Bento é um templo escuro, a iluminação é amarela e pouca e se mistura com as luzes que entram pelos vitrais. Os bancos são de madeira escura. As estatuas de santos e as pinturas são bastante antigas. A Basílica, como é hoje, data de 1914, mas o inicio do Mosteiro em São Paulo deu-se em 1598.
O altar também é de madeira escura e dos lados tem bancos para os monges que durante a missa nos brindam com o seu famoso Canto Gregoriano. Aqui se estuda se ensina e se pratica este tipo de Canto. Este canto é monofônico, somente vocal e sem acompanhamento instrumental, é praticamente uma oração cantada.
Eu me sento e permaneço sempre 10 a 15 minutos em silencio aguardando a missa, usando este tempo para meditar. Eu nem sinto o tempo passar. Aqui é uma missa ao estilo antigo, embora em português, os cânticos são em latim e o sermão é realmente uma reflexão da leitura do evangelho. É uma missa de oração, meditação, e introspecção.
Eu sinto falta deste tipo de igreja, aberta o dia todo para que a gente entre e fique em um local de paz e com silencio para rezar. Gosto da missa, mas gosto mais do espaço de silencio do pós missa. Depois como não sou ferro, eu como um delicioso pão com frutas na padaria do mosteiro.
Ai que saudades, ta na hora de visitar Sampa...

Imagens retiradas da Net...eu so fotografo interior de igrejas com a permissao...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Será que eu ainda tenho chance??

PASSEIO DE BICICLETA

                Esta semana me bateu uma vontade de aprender a andar de bicicleta. Eu já tentei algumas vezes e não consegui, tendo passado por inúmeros tombos, alguns tombos homéricos tentando aprender a andar de bicicleta.
                Ai eu me lembrei de uma situação bastante hilária com uma bicicleta. Estávamos em 1969 e eu nos meus 16 anos de idade tinha passeios todo sábado e domingo. Ia ao cinema Pedutti em Presidente Prudente e depois uma passadinha no Nosso Cantinho, um bar minúsculo, mas ponto de encontro para uma coca cola.
                Naquele  sábado o namorado, também de 16 anos, me avisa que vai me buscar em casa... Oba eu posso colocar mini saia, bota de salto alto, e me produzo toda. Nesta época morávamos na Rua Maria Anita, em um bairro longe do centro da cidade.  Às sete horas da noite chega o moçoilo todo perfumado, lindo, eu animadíssima saio do portão e levo um baita susto. Ele realmente veio motorizado... pedalando uma bicicleta.
                Imagine meu susto, alem de não conseguir subir em uma bicicleta de mini saia, eu realmente não me equilibraria em uma bicicleta. Eu desandei a rir, o que o fez ficar bravo. Ai eu lhe contei que não sabia andar de bicicleta, rimos juntos e fomos ao cinema empurrando nosso veiculo.
                O namoro durou poucos meses, mas com este acontecimento a memória persiste viva ate hoje.
               
               
Se ela consegue eu ainda tenho esperanças.....

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A crianca dentro de cada um de nós


Depus a Máscara
Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términus de linha.
Fernando Pessoa

ser sempre a mesma, podendo mudar...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

COMIDA CARINHO

Os tempos mudaram. Os tempos realmente mudaram muito. As nossas mães e nossas avós tinham tempo, tempo de semear carinho. E de qual carinho nós mais nos recordamos?  Eu tenho certeza que é do carinho-comida.
                Quem não se lembra dos bolos do café da tarde? Do leite quentinho com café ou chocolate e pão caseiro? Da manteiga feita em casa ...sem se preocupar com as calorias, que a gente nem imaginava que existia. Dos bolinhos de chuva, fritos na hora e das bolachas dentro da lata, e só eram 4 para cada um . Quem não se lembra das sopas quentes dos dias frios e da limonada gelada dos dias quentes? Da laranja descascada, das fatias de maçã, e da melancia em cubinhos?
                Não é só da hora da merenda e dos lanches que tenho saudades. Eu tenho saudades também do chazinho para curar “resfriado” acompanhado de uma manta, com direito a historinhas, ate adormecer.
                E o que dizer dos adultos, estes também tinham sua porção de comida-carinho. Em tempos de tristeza (o termo depressão não era comum) as mulheres se reuniam final da tarde para um café com bolinhos e muito papo, apoio, ajuda e oração à necessitada . (auto ajuda não estava na moda, à moda era compartilhar e reunir) . Criança podia ficar perto mas não metia o bedelho em conversa de gente grande.
                Quando veio a revolução industrial e a mulher saiu de casa para trabalhar a avó e as tias mais velhas cuidaram de tudo isso, as crianças continuaram com a sua rotina. Ai o tempo passou e as avós de hoje trabalham, as mães trabalham , as babas são escassas e as crianças cedo vão para a creche.  A comida da creche é balanceada pela nutricionista, variada e gostosa, mas destituída de afeto.
                Estas crianças de hoje não estão construindo historias a se guardar. O lanche da tarde , se feito em casa , é um pacote de bolacha ou salgadinho, às vezes bolo de caixinha, suco de caixinha, achocolatado de caixinha e iogurtes. E não é na mesa não, é na frente da TV, sem conversa jogada fora. E na maioria das casas de avós é do mesmo jeito , comida pronta ou macarrão instantâneo . Elas se lembrarão é de marcas, isto eu tenho certeza.
                E dá para voltar no tempo e voltar para casa? Certamente não dá. Mas é possível um meio termo. Sempre é possível arrumar um tempinho para comer pipoca de micro ondas todos juntos. Sempre é possível cobrir de brigadeiro (rápido de fazer) um bolo de caixinha, enche-lo de amor e compartilhar. Sempre é possível um lanche na mesa com todos conversando. Sempre é possível receber visitas de novo na cozinha , em volta de um bolo e um bule de café. E dá também para ser “light”,criança adora laranja descascada (preguicinha) mexerica sem pelinha, melancia cortadinha, uma bacia de jabuticaba...hum...
                Vamos tentar preencher nossas crianças de afeto e não de presentes!
                                                                                                                             Agosto de  2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Identidade

Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem inseto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço    Mia Couto

Luto para que nossos netos possam ainda ver esta natureza

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Passo a passo

        Passava das dez horas e já se percebia o silencio que a noite trás, e mesmo sentindo o cansaço do dia o sono não vinha e rolar na cama estava se tornando exaustivo . A ânsia por algo a se fazer começou a me incomodar, tento ler e não consigo, passo por todos os canais da televisão e não me concentro . Cansada e incomodada,  me levanto, visto um agasalho e tênis confortável e me preparo como sempre faço para uma boa caminhada. Caminhar a noite me ajuda a dormir. Desço a escada, já me sentindo animada: vou caminhar. Penso ate em levar o celular, acho que me daria uma segurança, mas ai me lembro do porque quero caminhar e o deixo sobre a mesa. Penso comigo, se vou para relaxar, para que levar o celular e me expor a sair do meu momento de descanso? Saio. É tarde da noite, mas sinto-me segura. Sempre  ando em uma rota no meu bairro em que a cada meia quadra visualizo um guarda e ate conheço alguns, sempre os cumprimento. Eles me conhecem. A rua deserta estava silenciosa, tão silenciosa que eu conseguia ouvir o ritmado bater do meu coração. Ouvia e sentia e sentia também o suor descer por minhas costas, quente e úmido, conforme acelerava a caminhada . E cada vez mais sentia o prazer que isto  sempre me proporciona. Acelero os passos, observo o céu, as nuvens e ando por um longo tempo e ai percebo que realmente fui mais longe que o habitual. Estranho.
     Estranho ainda não me sentir cansada, sinto como se o tempo não tivesse passado. Sinto. vontade de ir mais longe, de acelerar os passos, de sentir os movimentos, a respiração que agora já está cadenciada, o que já me permite ate correr. Mas tenho que começar a voltar, giro e começo a descer em direção à minha casa. Espanto ao olhar no relógio , já se passaram uma hora então percebo que a volta também será longa .Começo a andar e a acelerar os passos e súbito me assusto. Percebo agora que há um tempo não vejo guardas, não os vi hoje, sumiram todos, entraram nas casas, não vieram? Agora sinto medo e acelero mais os passos. Agora tenho pressa e sei que não posso correr, senão posso me cansar. Porque não peguei o celular? Mas também, a quem chamar? Respiro e penso: calma, você sempre faz este trajeto, sabe-o de cor, pode faze-lo novamente. Percebo que tenho que respirar com mais calma, sinto as pernas cansadas e as mãos formigando. Elas  estão tensas. Respiro longamente e recomeço a andar.
    A noite esta escura e não há viva alma na rua, nem escuto carros. Na escuridão da noite e no silencio que quase posso sentir escuto passos a me seguir e acelero minhas passadas. O som de passos acelerados me assombrou. Sinto-me gelada e assombro-me com o medo a me travar os passos e a me solicitar que corresse ao mesmo tempo. Corri, e corri e corri muito a sentir que o coração já me pulsava na garganta . Quanto mais eu corria, mais eu sentia que os passos que ouvia se aproximavam aceleradamente, me apavorei e queria gritar, mas a voz não saiu. Queria poder sumir, esvair-me em uma nuvem de fumaça como em filmes de super heróis, mas lá no fundo eu sabia que não podia, que isto não ia acontecer. Suava muito e sentia o suor escorrer em meu corpo quente, o medo do que sentia gelava-me as mãos e a alma. Era um medo tão grande  que nem podia nomear.
        Não conseguia pensar, nem me lembrava do porque que tinha que caminhar àquela hora, poderia ter ficado dormindo, mas não deu, não dava, não podia. Há muito tempo já me sentia assim, ou melhor, não me sentia, ia, ficava, saía, voltava, não mais me importava. Nunca tinha medo, porque o medo agora? Nem isso sabia mais responder.
       Voltei a me concentrar nos passos que ouvia e acelerei os meus . Fui sentindo o calor que o medo me dava e o calafrio que me percorria a espinha e que subia ate turvar-me os pensamentos. Eu corria e já não conseguia mais sentir os meus pés, e ai estanquei. O que fazer? Atravessar a praça, num caminho mais curto ou seguir pela rua e enfrentar uma longa quadra sem casas abertas, apenas muros altos e assustadoramente hoje sem guardas. Sem proteção.
      Comecei a correr através da praça e os passos que ouvia se aceleraram atrás de mim, e cada vez os ouvia chegando mais perto e crescia o medo em meu peito, e com o coração acelerado comecei a sentir que não tinha mais cansaço,  tinha sim o sangue a correr nas veias a subir pelas pernas, a me dar um frio na barriga que já não conseguia distinguir e a sentir o corpo todo vibrando com a sensação de flutuar. As mãos já não estavam geladas, mas suavam muito e os arrepios a me percorrer o corpo subiam a minha nuca e me atordoavam. Escutando os passos acelerava os meus e já não tinha mais medo de nada, só sabia que sentia e este sentir me fazia viva de novo. Assustei-me com o que senti e agora que não tinha o medo parei e encarei quem me seguia.   

     O terror do que meus olhos viram trouxeram de volta a minha alma o medo e o frio que subiu pelas minhas pernas, pela espinha e a percorrer meu corpo gelou-me a alma. Fitei o vazio. Fitei apenas o vazio do silencioso escuro da noite. Percebi que fugira dos meus próprios passos.                               
Helene Kantz 2003

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

uma poesia para alegrar o dia

Nesta vida,
pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer.
"Nada se leva. A não ser a vida levada que a gente leva."
- É so se lembrar de tomar sorvete de casquinha, lambendo, comer gominhas, pastel de feira,se equilibrar na guia da calçada, rir bastante, rir mais, apostar corrida ....

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ler é sempre uma viagem...

LEITURA OBRIGATORIA

                Outro dia eu estava sentada no shopping tomando um sorvete e na mesa ao lado quatro adolescentes conversavam muito alto. Não dava para não ouvir.
                Elas conversavam agitadamente, em voz alta, esbravejando contra a professora de português. Estavam indignadas com o excesso de leitura obrigatória, e o tempo escasso de duas semanas para se terminar a leitura de dois poemas!
                Que abuso! Pedir que jovens lessem dois poemas, que percam tempo com leitura!
                Vocês imaginaram se a professora pedisse para ler um livro inteiro. Seria inimaginável. Mas também existe a opção de baixar o resumo, mais pratico curto e comentado.
                Em tempos de internet, de conhecimento rápido, novidades em tempo real, como estimular crianças e jovens ao bom habito da leitura?
                A leitura  vem perdendo espaço . O conhecimento humano é absolutamente infindável .  Ler é poder se aproximar deste manancial de conhecimento e cultura.
                A criança aprende a gostar de ler de  duas formas: vendo os pais lendo, e e no estimulo dos educadores. A criança é curiosa , se bem apresentada ao livro, se apaixona , e lê. Se mal apresentada fugira deste compromisso.
                Cabe  aos pais esta apresentação ao livro, de maneira cuidados, suave, iniciando por pequenos textos ou historias  que a criança goste. É sempre interessante começar com livros pequenos, historias curtas. Interessantes, alegres. Pode-se ate mesmo introduzir com revistas em quadrinhos. Depois de despertado o interesse, a própria criança vira em busca do que gosta.
                Não acredito na necessidade de competir com a internet, se ler não fosse importante e gostoso o IPad não estaria constantemente esgotado.
                Ler ainda é a melhor opção de adquirir conhecimentos, de se divertir e de se emocionar.

Boa leitura!

Museu e Universidade de Bonn Alemanha
Viajar é conhecer....se nao da para viajar, viajo em livros , viajo na net

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O silencio é coisa rara...


     O  SILENCIO É COISA RARA...


O som da televisão da vizinha com a voz irritante do animador do domingo me faz ter certeza de que a televisão invade meu momento , mesmo que eu não a ligue , ela adentra minha vida e me distrai , me tira do meu sossego. Irrita-me. Nos nossos dias, o silencio é coisa rara, objeto de luxo e difícil de se ter. Sinto falta . Sinto falta do som do vento a agitar plantas, do ruído de pássaros, do silencio da noite, com pouquíssimos carros e que a negritude do céu e o brilho das estrelas eram abençoados com o silencio do homem que deixava aparecer o pio da coruja e o sibilo do vento. Silencio convida a ouvir o som da própria voz, é meio maluco gostar de se ouvir , mas é um exercício de descoberta. Falar sozinho é enriquecedor, ensina a se aceitar como uma boa companhia. Meditação é um nome aceitável socialmente que uso para a minha conversa solitária comigo mesma.
Adoro a noite , adoro andar a noite , sozinha , a olhar as estrelas e sentindo a leve umidade que a noite traz. Gosto de noite enluarada, de claridade que vai surgindo e aumentando o brilho das estrelas e entendo os poetas, que sempre fizeram da lua a musa, a associaram a mulher, não a uma mulher, mas a grande mulher que está dentro de todos nos, o resquício da mãe-terra, a matriarca do passado, que em sua força criava, e na sua generosidade fecundava, e na sua meiguice encantava, e na sua loucura, apaixonava.Esta mulher que hoje tem medo de sua força, de suas garras e do seu mel. Não consegue ser a pantera que arrebata, nem a leoa que protege ,nem a cordeira que dirige , nem a amante que se entrega. Por medo de seus pedaços , ela  não se completa.
O silencio é criativo. No silencio os pensamentos podem surgir e tomar forma e criar historia. No silencio do ambiente , tem-se a possibilidade de elaborar nossas idéias, criar, deixar surgir o que se importa. E resolver. E pensar e repensar. E decidir...ou não.
Tempo de pensamento é tempo de resolução. Os dias modernos com tanto ruído e estímulos e sons tiram de nós  o tempo de meditação. Ficar só não é sinônimo de solidão, ficar só é se permitir um tempo de reflexão, de preguiça , de conversa interior.
É ser por alguns momentos, só você.


           






   

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

morro acima




            Estou em Koblenz e no começo da manhã começo a caminhar do lado do Reno, mesmo lado do hotel e passo em frente a um mosteiro e esta tendo missa não da pra entrar. Eu estou no pé da montanha e olho para cima e vejo um castelo. Eu compro uma água e pergunto com meu alemão capenga como chegar la , ele, um velhote,  me diz que é só pegar a estrada morro acima, leicht und nahe (fácil e perto) . Ele também me conta que no topo do morro tem um obelisco e um cemitério judaico, de sobreviventes da segunda guerra, decido ir já que é fácil e perto. I can die ou matar o alemão...que trampo!
            Após trinta minutos de caminhada, eu encontro o acesso do castelo interditado porque ele esta em reforma. Eu só consigo  fotos de longe e já que um terço do trajeto eu já fiz, resolvo ir ate la em cima, como me disse o velhote é perto e facil. Passei por um pedaço de uma frente de um castelo mas que parece uma casa, não entendi muito bem , na volta vou tentar entender e tirar umas fotos. Eu vi em uma das muretas do caminho, um esquilo, não sei se foi o Tico ou o Teco , mas não deu tempo de tirar uma foto...lindinho.  Na caminhada  as partes perigosas, bem próximas da ribanceira do morro,  tem muretas e da pra se ver Koblenz e o Reno la embaixo , consigo lindas fotos e continuo , só subindo, nas curvas, floresta de um lado e ribanceira do outro com muretas. Ai como eu me distraio fácil , cansada, suando ,parece que o morro não tem topo , e eu tirando lindas fotos, e rindo feliz, pode?
            Passei o obelisco, fotografei e da mureta tirei fotos lindíssimas. Passou por mim uma motocicleta tão antiga que eu acho que o cara roubou do Hitler...hahaha e com um cachorro lindo e nos cumprimentamos. Ufa cheguei ao cemitério, ainda sem entender muito bem, mas tiro fotos e decido descer lentamente fotografando, tem vários arbustos de uma frutinha, parece amora, será?
            À volta esta difícil, a água acabou e é só mata de um lado e barranco do outro. Eu cheguei na fortificação e atrás de mim chega o alemão de moto . Ele se chama Fritz mora aqui e me oferece água. Ufa , quero sim . Entrei , ele fala alemão e inglês  ,a irmã  Frida não fala inglês , ensaiei um alemão mais ou menos. Tomei das vassa e dea caffee...hahaha
            Fritz me conta que esta fortificação são restos de um castelo que foi bombardeado na guerra e eles moram na casa contigua. Eles são alemães judeus e na guerra seus parentes e toda uma comunidade subiram o morro e sobreviveram porque isolaram a estrada, na época o acesso era de terra, com enormes buracos. Os descendentes ainda são enterrados ali. Linda historia.
            O Fritz e a Frida me levam em uma estradinha na mata para comer amora silvestre...uhn que delicia. Fritz me deixa tirar uma foto, Frida não gosta de fotos.  Valeu a caminhada.
            Na descida do morro tem um espelho na rua, engraçado, olho e estou uma baleia também: bear,vein,kuchen,brot,kartofel,cappuccino....hahaha ...traduzam.

domingo, 7 de agosto de 2011

Horizonte perdido

HORIZONTE PERDIDO

                Este final de semana eu reli um livro que achei nos meus guardados. Fazia bastante tempo que não o relia, acho que esta é a quarta ou quinta releitura. Eu realmente li pensando no porque de tanto interesse em um livro. O livro chama-se Horizonte perdido de James Hilton.
                Este livro é sobre um mosteiro em um vale, de nome ShangrI la, onde há longevidade. Não é tão simples assim, é um lugar paradisíaco entranhado nas montanhas geladas do Himalaia, não tenciono contar a historia porque o leitor tem direito a descobrir no decorrer do livro. O que quero trazer aqui é o sentido de tempo, o que faz este livro ser tão interessante.
                No livro James Hilton cria uma utópica localidade, um lugar mágico entre as belíssimas e inacessíveis montanhas congeladas do Tibet, onde pessoas de diversas nacionalidades vivem de forma livre e desabusada, partindo do princípio do uso da moderação em todas as suas atividades e atitudes.
                Em diversas fases da minha vida eu o reli , e este clássico , já filmado e refilmado , sempre me faz repensar como estou lidando com o tempo. Que valor eu dou aos meus desejos, me dando um tempo, desligando a televisão e indo atrás do que gosto. Que valor eu dou as minhas prioridades, sobre a prioridade dos outros? Qual é o sentido, de mesmo cansada ler os emails e navegar nos noticiários? Qual de nos em algum momento da vida não sonhou em encontrar um local de tranqüilidade e paz como Sangri-la onde poderíamos viver muito e sempre  feliz?
                Eu sempre encontro parte do Shangri La dentro de meu coração, e o livro me relembra o caminho.
                Eu às vezes me percebo vivendo de maneira intensa e estressante , mesmo fora do horário de trabalho, vendo as noticias ansiosamente, acessando a net apenas para ver as noticias e emails. Se percebo paro e repenso. Porque tenho que ver as desgraças mundiais hoje? Porque preciso saber a cotação do dólar se não o uso?
                Neste livro tem um dialogo que me responde tudo isso. Conway pergunta dos jornais e revistas atuais e Chang do mosteiro diz que tem de 40 anos antes. Como ? responde Conway. Chang completa, não há nada que não possa esperar 20 anos para ser lido, ou não possa ser melhor entendido após 40 anos...
                Ler sobre a vida , escutar, ouvir é parte de nossa vida, mas não devemos nunca esquecer  que viver a própria vida é só o que importa...
                Eu aprendi que não preciso de estar no Himalaia, eu sempre posso encontrar meu horizonte em uma viagem que fez parte  dos meus sonhos....


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Educar é trabalho árduo

                No meu trabalho de pediatra, tanto no consultório como no hospital, eu tenho observado um número cada vez maior de crianças indisciplinadas, sem limites, que fazem o que querem sem serem repreendidas. Fazem o que querem na presença dos pais.
                Os pais encontram-se perdidos na educação infantil, com medo de serem severos, tornam-se omissos e permissivos.  As crianças podem tudo, agridem companheiros de brincadeiras, irmãos, às vezes agridem ate pai e mãe.
                Com medo de dizer não, os pais perdem a oportunidade de educar e preparar para a vida. A criança precisa do sim, do apoio e dos elogios, mas a criança que escuta um não na hora certa consegue aprendera diferenciar o certo do errado e isto só faz bem. Ela aprende a tomar decisões, ela se prepara para os sins e nãos do seu futuro.
                São função e obrigação dos pais ensinarem, e cobrar obediência nas coisas importantes, mas pai e mãe têm que dar exemplos, como obedecer às leis de transito, não burlar regras, não furar filas de banco e supermercado, e principalmente não cumprir tratos com outros ou com a criança. Pelo exemplo consegue se ensinar, e a criança entende melhor.
                O estabelecimento de normas e regras ajuda a criança a entender limites. Normas simples como horário de dormir e de acordar, horário de escovar dentes, refeições com a família, são pequenos atos que ensinam limites.
                A organização, que não precisa ser excessivamente rígida, ensina o respeito aos bens pessoais e comunitários.
                Só não é possível que se terceirize a colocação de limites.
                Não é a secretaria que deve ensinar a cuidar dos brinquedos da sala de espera e o respeito às crianças que brincam junto
                Não é a professora que deve ensinar a cuidar dos pertences pessoais e o respeito aos colegas
                Não é a policia que deve ensinar os limites na rua.
                Como dizia meu pai, educação começa e continua em casa.
                Para transformar crianças em verdadeiros cidadãos, são necessários pais que eduquem com limites, carinho e exemplos.