Antigamente...
Que vagares
incertos, passam as horas e às vezes dias e me encontro de novo nesta viagem em
busca de minhas memorias. Desta vez estou não criança mas em uma brincadeira
dançante, nossa que antigo, brincadeira dançante em fim de tarde e começo de
noite em que cada um levava um pratinho de salgado e uma tubaina e se paquerava
muito , com olhares furtivos , e quem sabe ate um pedido para dançar .No começo
da brincadeira muito Roberto, Erasmo e Vanderleia na vitrolinha , depois
Beatles e lá pelas oito horas , quase hora de ir embora, musica lenta , suave
para dançar juntinho. Que lembrança , a paquera já ia lá pelas suas varias
semanas de olhares roubados , de recadinhos e veio o convite para dançar, um
jovem dois anos mais velho, mais velho..., lindo e só de pegar na minha mão ,
veio aquele frio na barriga e aquela emoção da primeira vez,minha primeira
dança junto de um rapaz e me senti pesada e flutuando ao mesmo tempo , sumiu a
sala e o mundo e não me lembro de muita coisa , de palavras não me recordo , só
de um mergulho em seus negros olhos e a sua mão úmida segurando a minha e a
imensa vontade de parar o tempo , congelar o momento e nem sair do lugar.
Tempo.
Tempo que nem sei quanto e o sim ao pedido de namoro, naquela época o pedido
era formal , e voltar para minha casa de mãos dadas, ate o portão . O sabor
daquele beijo roubado e rápido durou tempo, muito tempo. Como é bom recordar
que houve um primeiro beijo. Como é bom recordar que foi bom o primeiro beijo.
Namoro de passear na praça de mãos dadas, de beijos roubados no escurinho do
cinema, de ganhar muita rosa roubada de jardins alheios . Durou pouco. Dura ate
hoje a sensação gostosa de que é possível sentir o mundo em duas mãos que se
tocam , se buscam e se encontram. Nada pode ser mais sensual que duas mãos que
se descobrem , dá para se estar inteira em um toque.
Toque de seda e de areia , de secura e
umidade, de suavidade e força, de prazer infinito em um momento.