Total de visualizações de página

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O tablet e o livro

Estou sentada à sombra de uma arvore lendo um livro, no horto após uma caminhada leve. Degustando água de coco e um livro de poesias. Um adolescente que conheço para e me pergunta: porque não trouxe um tablet e ai podia jogar ou ler e ouvir musica, é muito bom para passar o tempo... Eu pensei comigo mesma : estou lendo, ouvindo o vento , os pássaros e o farfalhar das folhas das arvores, que mais posso querer? Ai continuei no pensamento, eu tenho um tablet e ele me ajuda em buscas, rapidez e atualização, mas não substitui meu livro. Ai respondi; garoto eu sou de outra época ( resposta mais coerente a minha pessoa) , Eu sou da época em que se lia muito e se relia os bons livros, se degustava poesia e as musicas eram poemas cantados ( lembre-se você Vinicius de Moraes e Adoniran Barbosa) e embora tenha e use um tablet ainda leio muito . Ele se despediu meio desalentado com a resposta. Fiquei pensando e lembrando dos meus tempos com a idade deste garoto... “ Eram tempos diferentes. Era tempo de leitura e musica, numa cidade também quente, de meio dia quente e suarento. Na languidez do pós-almoço, meu pai dormitava no sofá ao som de concertos “leves” e eu e minha irmã, mantendo o silencio do seu repouso líamos, de tudo um pouco, um livro de aventuras, uma poesia, o livro da juventude das Seleções, que ainda tenho comigo, e os grandes clássicos que me faziam viajar na fantasia da heroína, quase sempre trágica. As vezes para teimar líamos o Cruzeiro, uma revista de adultos, uma lia e outra vigiava o pai. Desta fase ganhei a paixão pela leitura e pela releitura e acho que é ai que reside a mágica, só se “entra” em um livro na segunda ou terceira ou quarta vez em que o lê, quando já se é intimo do autor, já se sabe como ele pensa. As vezes líamos uma fotonovela da nossa irmã mais velha, fotonovela é sempre igual, são amores difíceis, muita intriga e que se resolvem no final com um casamento.Um conto de fadas com fotos. Mas eu gostava mais dos romances , porque neles eu podia ser a heroína e me ver com os príncipes da estória e a imaginação corria solta. Meus sonhos foram povoados de magia, de princesas e príncipes e cavalos brancos, e fadas e duendes e monstros e dragões. Não foi só Tablet e o Computador dos dias de hoje que eu não tive na infância, eu também não conhecia a televisão , só de ver nas revistas e era novidade que só existia na capital. Não conhecer também impedia sentir falta, o meio dia e as noites se recheavam de leituras e musicas com o pai e de prosa com mãe , de prosa na porta , de “um dedo de prosa” antes de dormir .Uma xícara de chá que “acalma os nervos” e uma boa conversa é receita de comadres para criança dormir sem pesadelo. Mas é estranho, o chá para acalmar e as historias de assombração, de fantasma , de espírito que vaga e de sombras que viram gente para completar a noite. A janela de venezianas deixava entrar réstias de luz que faziam sombras no chão do quarto e se a baixinha da minha irmã não queria dormir na mesma cama , restava apenas dormir embaixo das cobertas , de cabeça coberta e com o gato para garantir que nada entraria na minha cama. Daí tinha que acordar dez minutos antes da mãe entrar para me chamar para a escola para esconder o gato, mas ainda assim valia a pena. Era realmente um tempo diferente, onde ler e ouvir historias faziam parte do dia.Ler ainda faz parte do meu dia.”

Nenhum comentário: