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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Canção na plenitude

Canção na plenitude
Lya Luft

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Encontrei este poema entre os meus guardados. Como é belo.
Carreguei muitos fardos também. Alguns com gosto outros com gosto de fel . Eu creio que amar é isto.
Amar não apenas o seu par, seu companheiro, mas o amor como um todo.
Amamos diferente em todo o decorrer da vida. A criança também ama, se é feliz e bem cuidada, é um poço de amor. Ama brincar, ama mãe e pai, ama seus companheiros, seus irmãos e primos. Ama os bichos. Ama ler. Ama pintar. Ama seu pequeno mundo.
Quando jovem descobre o amor do outro, com o outro. Um par.
Como encanta dois jovens a se olharem. Que paixão ilumina seus olhares.
As mãos que se tocam irradiam amor. Um beijo roubado , um bombom , um bilhete vai aumentando e sustentando este amor pueril.
Ah! os namoros da juventude , barulhentos , intensos e cheios de paixão. As vezes duram, as vezes são fugidios, mas vão se repetindo e permitindo o crescimento.
O amor do começo da vida adulta envolve compromisso, construção e responsabilidades. As vezes com filhos. Sempre com construção, mas sem muito tempo. Há amor, há paixão , mas há rotina .
O amor da maturidade , este amor é diferente. Há se tempo para amar. Há maturidade e entendimento. Aumenta , não para todo mundo, mas para os que conseguiram se amar, a capacidade de estar com o outro.
É um engano achar que é mais calmo por ser menos intenso. Não, é mais calmo porque o tempo ensina a ouvir, ensina a dividir , ensina a somar. Divide-se partilhando, soma-se aprendendo sempre.
O amor da maturidade tem paixão e arrebatamento sim, mas tem entendimento também.
Pode-se amar diferente sempre a mesma pessoa. Pode -se recomeçar. Pode-se amar de novo um outro amor.
Amamos nossos filhos, e os que tem, seus netos. Amamos nossos irmãos. Amamos a familia Amamos com  e por paixão. Amamos nossos bons amigos. São amores diferentes.
Tambem amamos nosso trabalho, nosso lazer, nossos hobbies, nossas plantas, nossa casa, nossos bichos  e ate nossas manias.
O que não podemos é perder a capacidade de amar.


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